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Temporais no RS matam 29, inundam cidades e isolam moradores sem resgate

Condições climáticas e bloqueios dificultam ajuda; governo decreta calamidade pública no estado

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Caminhão do Exército percorre área alagada em São Sebastião do Caí (RS) Carlos Macedo/Folhapress

Porto Alegre, Curitiba e São Paulo

Em uma destruição considerada sem precedentes no Rio Grande do Sul, as fortes chuvas que atingem o estado deixaram ao menos 29 mortos desde segunda-feira (29), 60 desaparecidos, 36 feridos e quase 15 mil pessoas fora de suas casas. Os alagamentos arrastaram construções e isolaram moradores.

A falta de acesso, somada às condições climáticas, dificulta o resgate e o restabelecimento de energia elétrica para mais de 320 mil imóveis, segundo os balanços das concessionárias RGE e CEEE Equatorial. A concessionária Corsan diz que cerca de 542 mil clientes estão sem abastecimento de água.

O governador Eduardo Leite (PSDB) decretou calamidade pública no estado e fez um apelo para moradores de áreas de risco: "Saiam de suas casas e busquem locais seguros", alertou, em vídeos oficiais.

A orientação para evacuação abrangia na madrugada de quarta (1º) cidades do vale do Taquari, como Santa Tereza, Muçum, Roca Sales, Arroio do Meio, Encantado e Lajeado. Nesta quinta (2), o aviso foi estendido para moradores das cidades serranas que estejam próximos ao rio Caí, como as turísticas Gramado e Canela, além de São Francisco de Paula, Nova Petrópolis, Vale Real e Feliz.

Em Estrela e Lajeado, o nível do rio Taquari passou, pela primeira vez, a marca dos 30 metros —o nível ultrapassa as enchentes de 2023 e 1941, segundo o MetSul.

Em Putinga, também na região do Taquari, uma casa foi arrastada pela força da enxurrada na quarta-feira. A cidade pode sofrer ainda mais inundações com o risco de rompimento da barragem de Santa Lúcia, capaz de alagar toda a área central.

Homem e mulher com água na altura da cintura andam na rua de mãos dadas
Moradores atravessam rua alagada pelo rio Taquari em Encantado (RS) - Diego Vara/Reuters

A prefeitura anunciou que um duto extravasor foi ampliado para aumentar a vazão e não forçar a estrutura da barragem, que está no limite máximo de armazenamento.

A barragem 14 de Julho, localizada entre Cotiporã e Bento Gonçalves, às margens do rio das Antas, se rompeu parcialmente na tarde desta quinta. Como o nível do rio já estava elevado, os efeitos não devem ser de enxurrada, na avaliação do governo. "O nível do rio já estava muito elevado", disse Leite. "Já tínhamos feito evacuação de pessoas em algumas localidades e ainda tentamos dar apoio aéreo."

A estrutura pertence a um complexo de geração de energia. A Aneel e o ONS (Operador Nacional do Sistema) acompanham a situação de outras cinco barragens do tipo. Por volta das 16h50, a Defesa Civil estadual emitiu um alerta à população de Bento Gonçalves e Pinto Bandeira para o risco de rompimento da represa de São Miguel.

Segundo Leite, as operações de resgate são dificultadas em muitos pontos em razão do clima. Durante a semana, aeronaves de Santa Catarina e São Paulo tiveram problemas para entrar no espaço aéreo gaúcho.

Em municípios como Putinga e Cotiporã, os ventos e chuvas prejudicaram a chegada de helicópteros. "[Há] Todo o esforço no sentido de levar aeronaves para esta região, mas infelizmente as condições climáticas não tem permitido que a gente acesse essa localidade", disse o governador.

Na terça-feira (30), as primeiras operações aéreas foram feitas próximas a Sinimbu e Candelária, e a Defesa Civil havia pedido à população que se possível fizesse sinalizações luminosas para facilitar a identificação dos pontos de resgate. Militares da FAB (Força Aérea Brasileira) estão usando óculos de visão noturna para o resgate de vítimas das enchentes.

Ao menos 110 pessoas haviam sido resgatadas até a manhã de quinta-feira, dentre elas oito pacientes de hemodiálise, duas gestantes e uma criança de dois anos em estado crítico que estava hospitalizada em Faxinal do Soturno e foi encaminhada para Santa Maria.

Em São Sebastião do Caí, o aposentado Osmar dos Santos Tomás, 81, foi retirado pelos bombeiros após ficar ilhado no segundo andar de casa. O barco de resgate encostou em uma parte alta da cerca da casa para conseguir alcançar o idoso.

O resto da família havia deixado a casa na quarta, ele preferiu ficar, mas precisou sair após o aumento da inundação. "A gente ficou sem comida, porque está tudo fechado e a gente não se preveniu, porque quando nos demos conta os mercados já estavam recolhendo tudo."

Agentes do exército na cidade fizeram a última leva de transporte de desabrigados no começo da tarde. O rio Caí atingiu a marca de 17,01 m às 16h30. Como o leito segue subindo, as operações agora vão ocorrer por via aérea ou embarcações.

Vista aérea de São Sebastião do Caí (RS), que está inundada - Carlos Macedo/Folhapress

De acordo com a Defesa Civil estadual, a chuva provoca danos em 154 municípios e afeta 71.306 pessoas. Às 18h desta quinta eram 139 trechos em 60 rodovias com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes.

Somente a TIM afirmou que há não consegue fornecer internet e telefonia para 84 municípios. Vivo e Claro dizem que o problema atinge 48 cidades.

Todas as 2.338 escolas estaduais do Rio Grande do Sul suspenderam as aulas. Ao todo, 494 unidades no estado foram afetadas (danificadas, servindo de abrigo, com problemas de transporte, de acesso e outros).

Sob risco de enchente, Porto Alegre fecha comportas do Guaíba

Com a previsão de aumento do nível das águas do lago Guaíba ao longo dos próximos dias, a Prefeitura de Porto Alegre deu início na manhã desta quinta-feira (2) à operação de fechamento das comportas da cidade.

O nível de alerta para a região do centro histórico é de 2,5 metros, sendo 3 m para inundação. Às 9h30, a estação hidrológica da Sala de Situação da Sema (Secretaria Estadual do Meio Ambiente) marcava 2,63 m.

A região das ilhas do município devem ser as mais afetadas pelas cheias, já que a inundação nesta região ocorre após o nível do rio atingir 2,2 m.

Máquina er4gue peça para fechar comporta
Comportas são fechadas no caís Mauá para evitar transbordamento do lago Guaíba, em Porto Alegre (RS) - Divulgação Luciano Lanes/ PMPA

De acordo com o governo, por volta das 20h30 desta quinta o nível de água do Guaíba já havia igualado os 3,46 metros da enchente de setembro do ano passado e subia, em média, 8 centímetros por hora. Assim, a estimativa é que ele chegue a 4 metros durante a madrugada desta sexta (3) e há a expectativa que alcance 5 metros no fim da tarde.

"Teremos a elevação do [rio] Guaíba num patamar que nunca vimos e vamos precisar que as pessoas se coloquem em situações de segurança", afirmou o governador Leite. Ele comparou a situação atual com a enchente de 1941, apontada como a maior da história, quando o Guaíba chegou a 4,75 metros.

O coordenador da Defesa Civil de Porto Alegre, Evaldo Rodrigues de Oliveira Júnior, alerta que o local está sob risco e a remoção de famílias das zonas de risco do bairro Arquipélago é prioritária.

"É de suma importância que as pessoas compreendam que devem buscar um lugar seguro. Seja a casa de familiares, ou as estruturas da prefeitura", diz. "Já as famílias que estão longe das áreas de risco devem priorizar ficar nas suas residências."

Colaboraram Fábio Pescarini e Isabella Menon, de São Paulo, e Aléxia Sousa, do Rio de Janeiro

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